No dia em
que umas mãos tão pequenas tocaram pela primeira vez os meus dedos, minha vida
nunca mais foi a mesma. Na verdade, para ser sincera, a transformação já vinha
ocorrendo aos poucos, desde o momento que soube que estava grávida. Os medos,
os anseios, as prioridades foram aos poucos se modificando.
Mas, mesmo
que as transformações já viessem ocorrendo, não se comparam com o primeiro
encontro, nem com as várias primeiras vezes que daí decorreram. Primeira mamada:
é o leite que não desce, é o seio que dói, é o bebê que não pega direito.
Primeira troca e a preocupação se a fralda está apertada demais, ou se está
solta demais, se limpa com lenço umedecido ou se usa apenas algodão e água.
Primeiro banho, aquele corpinho todo mole, o medo de fazer algo errado. E
falando nisso, este tal medo de fazer algo errado me acompanhou bem de pertinho.
Quando eu menos esperava, lá estava ele do meu lado, soprando inseguranças no
seu ouvido.
E o que
falar daqueles primeiros dias depois de sair do hospital? O corpo que parece
que não é mais seu. Dói o abdômen se for cesárea, dói para sentar se for parto
normal, a barriga está inchada e murcha ao mesmo tempo, os seios estão enormes
e tão duros que parecem que vão explodir a qualquer momento. E, as vezes realmente
explodem, e você fica lavada de leite. A aflição para ir ao banheiro (fazer o
n.02 e as vezes até o n.01), o absorvente gigante, a cinta pós-parto e o pijama
eterno, que completa o look sensual da nova mãe.
Os
hormônios em desencontro, que nos levam da felicidade ao ódio mortal em um
piscar de olhos, na verdade, nem sei se é possível fazer as distinções de
sentimentos nesta fase, está tudo tão misturado que você nem sabe dizer ao
certo o que está sentindo.
E para
completar o quadro, o bebê chora. E você não sabe muito bem por quê. Pega no
colo. Olha a fralda. Tudo certo. Deve ser fome. Você aproxima o bebê do peito, que
já começa a jorrar leite. Enquanto você tenta amamentar de um lado, o outro
seio parece uma cachoeira. O bebê pega um pouco o peito e logo solta. E
continua chorando. Não era fome. Deve ser cólica. Mas a pediatra disse que bebê
com uma semana ainda não tem cólica. Você começa a caminhar com o bebê pela
casa. Ele continua chorando. O que será que ele quer? Você pensa quase em desespero.
E o bebê continua chorando. Ah, meu filho, calma, por favor! Você não sabe se
está dizendo isso para o bebê ou para si mesmo, já com lágrimas brotando pelos
olhos. E vem a dúvida: será que eu vou ser uma boa mãe? Será que vou saber me
virar sozinha com ele?
E está cena
se repete, de manhã, à tarde, em plena madrugada. Você fica exausta. As suas
únicas forças são dedicadas para aquele pequeno ser. E mesmo nos momentos de
desalento, com o cabelo preso de qualquer forma, com as olheiras fundas, sem
saber se vai conseguir tomar banho ou comer algo, quando você olha para ele,
você sente o amor pulsar em cada célula do seu corpo. Parece exagero? O amor de
mãe não nasce no coração, ele brota de cada parte do corpo e irradia para todos
os cantos. É forte, sincero e generoso
É este amor
que nos acalenta no difícil processo de tornar-se mãe, de perde-se para se
reencontrar. Como se o “eu” que você conhecia se dissolvesse, dando lugar para
o “nós”, para só depois emergir um novo “eu”.
Até que o
processo de transformação se organize, o caos domina a cena. É normal. Não se
culpe por isso, ou por às vezes ficar com raiva de tudo. Não se julgue. Não use
os parâmetros de antes para avaliar o agora. Tudo mudou. Respeito o seu
momento. E, assim que você e o seu bebê começarem a se conhecer melhor, as
coisas vão voltando ao normal, mesmo sem nunca mais serem as mesmas.
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