miércoles, 11 de noviembre de 2020

A Galinha que perdeu a pena

 

Autoria da imagem: Jose Luis Ramirez Bohorquez


Autora do texto: Thatiane Moreira

Em uma fazenda não muito longe daqui morava uma Galinha, ela tinha as penas todas pretinhas, exceto por uma pena pequenina, toda branquinha, que nascera ninguém sabe porque, bem na região da barriga.

A galinha cuidava muito bem da peninha branca: todos os dias de manhã a lavava e a secava ao sol, de modo que estivesse sempre brilhante. À noite, dormia protegendo a pena com as asas. E não ia para nenhuma parte antes de esfregá-la três vezes.

Alguns animais da fazenda chegaram até a estranhar o zelo da Galinha por uma única pena. E diziam para ela: “Senhora Galinha, porque tamanho cuidado com esta peninha? As outras penas do seu corpo também não são importantes?”. Ao que ela respondia: “Claro que sim. Todas as penas protegem o meu corpo, mas esta pequenina é diferente, ela não só protege como também me dá sorte. Ela é minha pena da sorte”.

A cada dia que passava, a fixação da Galinha por sua peninha branca só aumentava. Chegou até ao ponto dela brigar com a pata Querém, acusando-a de tentar roubar sua peninha da sorte. Depois deste episódio, poucos foram os animais da fazenda que ainda conversavam com a Galinha. Para ser mais precisa, apenas o cachorro Caramelo e a gatinha Firmina se aproximavam da Galinhaa, os demais temiam serem acusados injustamente de tentativa de roubo ou sequestro da peninha branca.

Os dias foram se passando e a Galinha se mantinha cada vez mais isolada. Passou a conversar com a peninha branca, de modo que parecia que esta respondia às indagações. O marreco Julião saiu espalhando pela fazenda que a Galinha estava maluca. Onde já se viu conversar com uma pena!

Quando os dias quentes de verão chegaram, os animais da fazenda foram se refrescar nas águas do rio, exceto a Galinha, que de tanto medo de perder sua pena da sorte não saia mais do galinheiro. Mas, quis o destino que uma forte tempestade, daquelas completas, com raios, trovões e ventos intensos, arrancasse o telhado do galinheiro. Foi um tal de galinhas e pintinhos correndo de um lado para o outro, desesperados no meio daquele temporal. O galo Francisco não se fez de rogado, entrou por uma janela e foi parar no quarto de Dimas, o dono da fazenda.

Nesta confusão toda, a Galinha não sabia se corria ou se protegia a peninha branca. Ela foi tentar abrigo no curral dos cavalos, tentou achar um lugar para ficar, era impossível, estava lotado demais. Foi então para o chiqueiro dos porcos, lotado também. Correu para a cabana dos patos, não encontrou nada, sem espaço também. Ficou zanzando de um lado para o outro da fazenda, sem achar parada.

O vento era tão forte que quase a levantava do chão. Se continuasse ali, seria a primeira galinha do mundo a voar. Foi então que ouviu um barulho diferente. Era o Caramelo. Respirou fundo, tomou coragem e, sem conseguir enxergar nada, começou a seguir os latidos do amigo.

Quando se aproximou um pouco mais, pode ouvir com clareza: “Venha aqui Galinha, tem lugar na minha casa”. O corpo da Galinha doía todo, pena por pena. O cachorro então completou: “Venha aqui, entre para se aquecer”. Enquanto abria espaço para que a Galinha pudesse entrar.

A casa do Caramelo era maior do que parecia por fora, bem quentinha e aconchegante. “Obrigada”, disse a Galinha ainda ofegante da caminhada. A chuva deu uma trégua, seus raios e trovões foram embora, mas uma cortina fina de água continuava a cair sobre a fazenda. A Galinha estava tão cansada que dormiu minutos depois de chegar na casinha de Caramelo.

Quando o dia raiou o galo Francisco cantou, a esta altura já havia sido expulso da casa do dono da fazenda, e se posicionava altivo sobre um toco de madeira. A Galinha acordou de supetão, assustada. “Nossa que noite”, disse o cachorro. “Nem me diga”, respondeu a Galinha, saindo da casinha para esticar as asas e pernas. Foi então que perceber a tragédia. Cadê a peninha branca? Um frio assustador congelou a barriga da galinácea, suas perninhas finas começaram a tremer.

Com a respiração ofegante, e com um nó que apertava a garganta voltou correndo para a casinha do cachorro, olhou de um lado e do outro, nada. A peninha não estava lá. Caramelo, percebendo o desespero da hóspede, perguntou “O que aconteceu? Porque está tão desesperada?”. “Perdi, Perdi... a minha peninha… branca, minha peninha da sorte”. Disse a Galinha em voz de desespero. “Calma, vamos procurar, ela deve estar em algum lugar por aqui. Onde você esteve ontem a noite?” Respondeu o cachorro, procurando acalmar a Galinha.

Quando o teto do galinheiro voou, eu fui para o estábulo, para o chiqueiro e para a cabana dos patos, estava tudo lotado, depois vim para cá”. Disse a Galinha, mal conseguindo pronunciar as palavras. “E, você lembra quando viu sua peninha pela última vez?”, perguntou Caramelo, que adorava solucionar um mistério. “Eu a vi quando estava dormindo no galinheiro, eu sempre durmo com a asa na peninha branca, para protegê-la”, disse a Galinha, enquanto passava a aso pela barriga, no lugar que costumava ficar a peninha branca.

Vamos começar pelo galinheiro, ou pelo que restou dele”, disse Caramelo, liderando a caminhada. Ao chegarem, encontraram o dono da fazenda que trabalhava para consertar o telhado. Eles tentaram entrar no dormitório das galinhas, mas foram impedidos por Dimas, que estava com cara de poucos amigos. “Melhor irmos para o estábulo”, constatou Caramelo, ao perceber a irritação do dono da Fazenda.

No caminho para o estábulo eles encontraram a Firmina, que vinha toda requintada, com seu laço amarelo no pescoço. “O que vocês dois estão fazendo correndo por aí?”, perguntou a gatinha intrigada. “Estamos solucionando um enígma”, respondeu Caramelo, todo misterioso. “Mistério, adoro mistério, posso brincar com vocês”, empolgou-se Firmina. “Não é uma brincadeira, eu perdi minha peninha branca”, replicou a Galinha já em prantos. “Desculpe Galinha, não quis ofender você, não sabia que tinha perdido a peninha branca, sei o quanto ela significa para você. Posso ajudar a encontrar se quiser”, respondeu a gatinha, um pouco sem jeito.

Resolvido o mal entendido, lá foram os três amigos, a procura da peninha branca. Ao chegarem ao estábulo encontraram o cavalo Mathias, que comia um pouco de grama ali por perto. “Vocês três, venham aqui, por que estão entrando na minha casa?”, indagou o cavalo, intrigado com a situação. “Bom dia Mathias, desculpe, eu não vi você. Estamos procurando a peninha branca da Galinha, ela perdeu durante a tempestade. Você por acaso não a viu por aí?”, explicou Caramelo, diplomático como sempre. “Você está falando da peninha da sorte?”, inquiriu o cavalo. “Sim, você a viu?”, animou-se a Galinha, com a esperança de rever a peninha. “Não vi nada de peninha da sorte aqui no estábulo”, respondeu Mathias. “Você se importa se formos procurar mais um pouco?”, quis saber Firmina. “Por mim tudo bem.”, concordou Mathias, enquanto voltava a comer sua grama, sem entender muito bem porque toda aquela preocupação por causa de um simples peninha.

Nem sinal da pena no estábulo. Chegou a vez do chiqueiro. Nada também. Os porcos quase morreram de rir quando souberam que os três amigos estavam procurando a peninha branca. Até fizeram apostas entre si, alguns achavam que a peninha seria encontrada e outros não. A notícia se espalhou, de modo que a busca pela peninha branca virou assunto da fazenda.

Quando os três amigos chegaram na cabana dos patos, já estavam sendo aguardados. Cada pato começou a contar uma história mais mirabolante do que outra sobre onde estava a peninha branca, todas mentiras, é claro. Eles queriam se vingar da falsa acusação de tentativa de roubo que a Galinha fez à Pata Querém.

A Galinha que no início estava com esperanças de rever sua pena da sorte, começou a desanimar, e ao perceber a fanfarrice dos patos, saiu correndo, indo se esconder atrás do tronco da grande mangueira. Caramelo e Firmina foram socorrer a amiga, mas a Galinha estava muito nervosa e não quis saber de papo. “Vamos continuar procurando, sei que vamos encontrar sua pena da sorte. Somos seus amigos, e amigos são para estas coisas.” Disse Caramelo, no tom mais amigável possível. “Amigos, vocês não são meus amigos. Minha única amiga era a peninha branca. Vocês não se importam comigo, só querem se divertir”, respondeu a Galinha, enquanto escondia o rosto entre as asas.

Firmina e Caramelo ficaram muito ofendidos com a resposta da Galinha, eles pensavam que eram amigos. Sem entender porque a Galinha tinha sido tão rude, cada qual foi para seu lado, sem dizer uma palavra. A Galinha se viu então sozinha, e decidiu que ia procurar sua pena por conta própria, não precisava de ninguém mesmo. E assim o fez, buscou por toda a tarde, em todos os lugares possíveis, estava exausta. Nem sinal da peninha branca.

A lua já começava a despontar, cada animal se dirigia para o seu cantinho. No caminho para o galinheiro, que agora tinha telhado novo, a Galinha encontrou Caramelo. Ela até pensou em dizer “boa noite”, mas não deu tempo, o cachorro se virou e foi embora.

Cansada, sozinha e sem a peninha branca a Galinha foi dormir. Assim que amanheceu, a Galinha saiu em disparada para continuar a sua busca solitária pela peninha, o que se repetiu no dia seguinte, e no seguinte, e no seguinte. Enquanto os demais animais se divertiam, inventando novas brincadeiras, a Galinha insistia na busca pela pena da sorte.

Até que um dia, enquanto procurava nos arredores da estrada, ela viu um pavão, todo majestoso. Ela conhecia pavão só de ouvir falar, nunca tinha visto um antes, deve ter se perdido de alguma fazenda. “Ola Galinha, o que está procurando”, indagou o pavão, que a propósito se chamava Balsánio. “Não interessa, é coisa minha. E eu não posso ficar perdendo tempo com conversa fiada”, bradou a Galinha, que vinha ficando mais ranzinza dia após dia. “Eu não quis ofender você, mas se me disser o que procura, posso ajudar a encontrar”, respondeu Balsánio, com toda a calma do mundo. “Eu procuro minha peninha branca, uma que eu costumava ter aqui na barriga, mas que agora não sei onde está. Ela é muito importante para mim. É minha pena da sorte”, expôs a Galinha, que na verdade estava cansada de não ter com quem conversar. “Entendo, pena da sorte é algo muito importante, ela nos protege, nos faz companhia, e sempre podemos contar com ela, não é verdade? Assim como um bom amigo. Quem me dera ter algo assim. Se eu, por ventura, perdesse algo tão valioso, também ficaria desesperado”. Disse Balsánio, com ar pensativo.

A Galinha ficou sem saber o que responder. Balsánio então completou: “Olha aqueles amigos brincando, eles parecem se divertir. É muito bom ter alguém para dar risada junto, você não acha?”, observou Balsánio, enquanto a Galinha mirava Firmina e Caramelo que brincavam de bola.

Ao se virar para responder, a Galinha percebeu que Bálsanio já havia ido embora. “Que pavão mais estranho”, pensou. E continuou a olhar para Firmina e Caramelo, tinha vontade de se aproximar, sem saber, no entanto, como. Caramelo percebeu, foi ele que se aproximou primeiro. A Galinha procurou se desculpar, dando mil explicações. Caramelo e Firmina ouviram sem dizer uma palavra. Ao final da explanação, Firmina perguntou “Você vai querer jogar bola com a gente?”. A Galinha balançou a cabeça afirmativamente. A brincadeira rendeu boas risadas e muita diversão. A Galinha percebeu então que não precisava da peninha, ela já tinha o que era mais importante: os seus amigos.


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